Os atentados em Bruxelas ocorridos na semana passada somam quase 40 mortes e deixou mais de 300 feridos. Foram considerados os piores atentados da história da Bélgica, cometidos por jihadistas do grupo Estado Islâmico, que há tempos vem proclamando sua campanha de terror no Ocidente.
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Os jovens que foram responsabilizados pelo ataque. Fonte: Expreso. |
Semana passada, por coincidência de horário e lugar, assisti ao inútil diálogo entre os apresentadores da Rede Globo Rodrigo Bocardi (do Bom Dia SP) e Chico Pinheiro (do Bom Dia Brasil). Este dizia mais ou menos o seguinte: "eu chego na redação cinco e pouco da manhã e me deparo com notícias sobre os atentatos na Bélgica na pauta". Chico Pinheiro afirmou que seu dia já começava mal e ficava desanimado com essa onda de violência. Não satisfeito, lançou a cartada final: "a pessoa tem que ser muito ignorante para se explodir. O que uma pessoa tem na cabeça para fazer isso?". Este último comentário provavelmente foi a representação máxima do senso comum e não duvido que a maior parte do telespectador tenha a mesma linha de raciocínio. Acontece que Chico comprovou toda a sua falta de conhecimento sobre o assunto, ou usando a mesma palavra: mostrou-se ignorante. O olhar puramente ocidental e preconceituoso sobre esses indivíduos não faz a população entender o que se passa no universo dos jovens que optam pela adesão ao Estado Islâmico. Nesse aspecto, vale ressaltar a explicação dada pela professora de História Árabe da USP Arlene Clemesha no Jornal da Cultura terça-feira passada. Não precisamos de opiniões, mas de debates mais amplos que a Rede Globo está longe de nos oferecer.
Deixo também uma recomendação de leitura muito pertinente. Robert Fisk é um correspondente de guerra britânico residente no Líbano. Há 40 anos no front no Oriente Médio, deu uma entrevista ao jornal O Estado de São Paulo intitulada Nascidos para morrer. Selecionei trechos que merecem atenção:
- "O que o EI quer é destruir a generosidade do Ocidente de dar abrigo aos refugiados. O grupo tenta nos fazer acreditar que seus recrutas fanáticos existem dentro da comunidade de refugiados. [...] Com atentados como esse, o objetivo do EI é nos fazer odiar os milhões de refugiados que vão à Europa e culpá-los pelos massacres do grupo."
- "Os EUA têm tratado o EI em termos apocalípticos desde que o grupo se expandiu em 2014. Não têm estratégia para lidar com o EI, exceto bombardeá-lo e fazê-lo parecer muito maior do que é. De fato, o EI é perigoso. Mas a reação dos EUA tem sido do tipo Hollywood, em vez de por meio de conceitos."
- "A melhor forma de destruir o grupo - e ele se autodestruirá - é promover justiça e educação no Oriente Médio."
- "Na Segunda Guerra, em 1941, Churchill convocou um gabinete para organizar a Alemanha do pós-guerra quatro anos antes do fim do conflito. No passado planejávamos as coisas, hoje não. Veja a crise de refugiados: não estamos nem perto de saber como lidar."
- "Sempre fizemos ações militares no Oriente Médio, mas tudo foram mortes, sangue e injustiças. [...] E ainda achamos que vai dar certo. É uma catástrofe! Não temos estratégia para o Oriente Médio."
- "Os mapas que mostram vastos territórios de carnificina do EI não refletem seu poder real. O EI é uma terra de almas perdidas."
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