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  1. Quando o debate deve ser pela Porta da Frente

    terça-feira, 12 de abril de 2016

    Um dos assuntos mais comentados nas redes sociais nos últimos dias envolve dois vídeos do canal Porta dos Fundos, que há tempos faz sucesso no Youtube e possui milhares de seguidores.
    O vídeo Delação causou uma grande polêmica ao expor as análises e julgamentos nada imparciais da Polícia Federal e do juiz Sério Moro na Operação Lava Jato, sobretudo no que diz respeito às delações premiadas.
    Há um ponto importante nessa história: o vazamento das informações, isto é, aquilo que chega ao nosso conhecimento através da mídia, é imperdoável quando os envolvidos pertencem ao Partido dos Trabalhadores. Justíssimo, por sinal. A parte mal contada -  e que a maioria ignora - é a seletividade na divulgação dos dados e no próprio modo como a justiça lida com isso. Aécio Neves, por exemplo, foi mencionado "apenas" oito vezes nas delações e não houve qualquer barulho notável a esse respeito (daí a necessidade do humor negro: prova de que é um eterno derrotado, já que nem com tantas citações foi merecedor de atenção da Polícia Federal, do Ministério Público e das grandes mídias). E o que dizer da já esquecida lista da Odebrecht que apontou mais de 300 políticos de 24 partidos que se envolveram com a empresa e foi encaminhada ao Supremo Tribunal Federal com todo o cuidado do mundo?
    A palavra-chave da Lava Jato é corrupção. Entretanto, seus procedimentos são puramente tendenciosos. Costumo dizer que o mínimo para que o julgamento tenha alguma credibilidade é que todos sejam igualmente mencionados pelos meios de comunicação e investigados, sem deixar poeira embaixo do tapete, sem acobertar pessoas e partidos. É justamente isso que vem acontecendo e que o vídeo Delação apresenta.


    Em terra de delator, quem tem boca fala o que sabe. Mas quem escuta faz o que quer.


    O vídeo foi duramente criticado por milhares de pessoas: os atores do Porta dos Fundos foram chamados de petistas, comunistas, esquerda caviar; foram acusados de denegrirem a imagem e o trabalho da PF e de serem beneficiários da Lei Rouanet (é bom ler o link, traz muitos esclarecimentos para os "juízes" das redes sociais), além de serem ofendidos moralmente. Muitos também recomendaram que os inscritos no canal deixassem de seguir os vídeos no Youtube.
    Devo confessar que não sou uma expectadora assídua do Porta dos Fundos, mas particularmente achei Delação tão bem bolado que talvez este tenha sido o maior incômodo provocado pelo vídeo. Se formos mais além, podemos, inclusive, associá-lo à omissão da imprensa diante de tantos outros escândalos de corrupção que merecem tanto destaque quanto a Lava Jato.

    O Porta dos Fundos soube dar uma resposta à altura aos seus críticos. Elaboraram o vídeo Reunião de Emergência 3, a Delação 2, no qual fazem uma sátira com todas as acusações que receberam, até mesmo à campanha de boicote. Neste vídeo, os atores discutem desesperadamente as possibilidades e os caminhos do grupo, que foi "desmascarado" pelos internautas. Todos vestem camisetas do PT e da CUT, há um boné do MST e uma bandeira de Cuba. Afinal, já não há mais o que esconder.


    São muitos dinheiros!


    Tal qual o primeiro vídeo, este também causou polêmica. Não faltaram comentários insinuando que toda brincadeira tem um fundo de verdade, que finalmente eles se revelaram, etc., etc. Ora, sejam defensores ou não de algum partido e posicionamento ideológico, não lhes é um direito? A reação do Porta dos Fundos foi interessante ao contornar com bom humor todas as críticas que receberam. Aqui vale uma ideia de difícil aceitação: ser contra o impeachment ou querer as investigações de outros partidos não o faz petista e tampouco quer dizer que Dilma esteja fazendo um governo eficiente. Mas há uma insistência muito grande na polarização política.

    Por falar nisso...
    É fato que o brasileiro está desacreditado na política. Mas o momento pede cautela. Recentemente publiquei um texto no Facebook que merece ser compartilhado aqui também:

    Os olhares sobre os acontecimentos na política brasileira estão cada vez mais polarizados. É uma coisa ou outra, a favor ou contra. Puro reducionismo.
    As forças da polarização política estão concentradas na comunicação. Não é de hoje que a mídia tem alimentado e propagado cínica e veementemente este fenômeno com muita intensidade - as ruas, as manchetes, notícias de jornais escritos e televisivos e o feed de notícias do Facebook comprovam o que estou dizendo.
    "Ler" e olhar atentamente o nosso país, que vive um momento tão delicado (mas enganam-se aqueles que afirmam ser este o ápice da tragédias de nossa história), não é tarefa das mais fáceis. Tentar, vejam bem, tentar desvendar este cenário caótico é complexo demais e não pode ser meramente simplificado em postagens nas quais só se trocam acusações o tempo todo. Em nada contribui, nem para o aprofundamento crítico, nem para deixarmos de sermos tão ridículos e imaturos politicamente.
    O anseio por respostas e atitudes é grande, sabemos disso. O que nos custa entender é que este teatro ao qual assistimos, e que também somos atores, está falando por linhas tortas sobre novas lideranças e movimentos em curso. O debate e a maturidade política é o que há de mais subversivo hoje, os grandes atos de rebeldia contra uma sociedade que busca se identificar com figuras políticas ou "intelectuais" de todas as áreas que provoquem comoção social; uma sociedade que carece de representação e que sequer é capaz de oferecer propostas contundentes.
    Não tenho um olhar neutro sobre os fatos, porém me recuso a fazer parte desta polarização que vive num campo minado e que os que estão nesse terreno não conseguem perceber que a única e grande vitoriosa é a irracionalidade. Tenho, inclusive, lido muitos comentários, de ambos os polos, que me remetem ao período do Terror na França revolucionária. Os conflitos se fazem presentes tanto na micro quanto na macroesfera social.
    É uma pena, pois estamos construindo o caminho inverso: estamos criando oportunidades para novos oportunistas e demagogos se beneficiarem desta fragilidade. É só uma questão de tempo.

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