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Kéfera: a youtuber mais famosa do país. Fonte: Jornal do Comércio |
Muito recentemente descobri quem é Kéfera Buchmann. Bem recentemente mesmo. A minha declaração sugere, para alguns, que estive viajando em outro planeta e que só retornei agora: "como assim, você não sabe quem é Kéfera?". Pois é, não tinha conhecimento da existência da youtuber mais bem sucedida do Brasil, nem de seu canal 5inco Minutos, que já acumula mais de 7,5 milhões de inscritos e cujo faturamento estimado atinge em torno de R$100 mil mensais. Um excelente feito para uma garota de 23 anos - de causar inveja em muitos executivos.
O conteúdo de seus vídeos são banais: com muitas caras e bocas, Kéfera relata algumas experiências, fala de ciúmes, bebedeiras, autoestima, dietas malucas, problemas familiares, gente chata, redes sociais e até mesmo sobre as leis de Murphy (que, obviamente, não deixaria de falhar nem nessas horas). Enfim, uma infinidade de assuntos triviais que a maioria de nós convive em alguns momentos do cotidiano. O "problema", ou neste caso "a grande sacada", é que Kéfera é uma mulher tão comum como qualquer outra, ou seja, sua genialidade reside justamente na falta de genialidade. A facilidade com que qualquer um pode se tornar um youtuber faz com que a jovem não esteja sozinha nesse barco. Uma câmera razoável (de celular ou computador), um cômodo qualquer da casa como cenário e uma conexão de internet basicamente já são o suficiente. De resto, é só começar a falar: sobre a vida, moda, culinária, games, música, esportes, sexo e tudo o mais. Qualquer "papo de boteco" serve.
Há muitas questões e visões que giram em torno dos youtubers: tendência profissional, exposição midiática de si mesmo, sucesso e efemeridade, valor e representação da imagem na atualidade, xeque-mate na mídia tradicional (a televisão será obrigada a incorporar os novos elementos que já se encontram presentes nos youtubers simplesmente porque isso será fundamental para a sua sobrevivência), transformações e novas tendências na comunicação. O fenômeno dos youtubers representa também mudanças sociais, econômicas e culturais. A tecnologia preparou o terreno da democratização e do acesso aos meios de comunicação digitais. Pode ser uma fonte de conhecimento e novas experiências, ou simplesmente nos distanciar de reflexões profundas e importantes que contribuem para o desenvolvimento social - pessoalmente é desta forma que vejo grande parte dos youtubers.
Andy Warhol sequer imaginou os avanços da comunicação digital e ainda assim tinha razão: os indivíduos estão sujeitos a terem seus 15 minutos de fama. Através das curtidas, dos comentários, da permanência do canal e do número de seguidores é que, supostamente, se constrói a "credibilidade" na internet. Leva tempo. E ainda assim nada é garantido. Se vai virar algo sólido, digno de respeito e admiração, e não apenas entretenimento barato, é outra história. Por outro lado, aparentemente os youtubers não demonstram este tipo de preocupação, isto é, não parecem pensar a longo prazo sobre o sucesso. Talvez como em qualquer outra área do conhecimento, a maioria seja esquecida e aqueles que realmente demonstrarem talento e competência sejam acompanhados por resultados positivos por um bom tempo. Inclusive, é interessante pensarmos na dualidade da criação dos ídolos: os que são produzidos pela TV não se esgotaram, porém dividem espaço com os que são "gente como a gente", que compartilham experiências (este fato pode ser notado no mercado de produtos e serviços também. Nos últimos anos, o aumento do número de pessoas inclinadas a "comprarem experiências" aumentou significativamente).
Vale também apontarmos para uma nova tendência. O sucesso dos youtubers está se estendendo em outras esferas: eles estão enveredando pelo caminho literário. Alguns dos livros mais vendidos já são os escritos por youtubers. Podemos entender como "a novidade do momento" ou simplesmente como resposta a uma nova demanda: da mesma forma que milhares de leitores recorrem à autoajuda, a moda agora é dominar as ferramentas, saber e desenvolver habilidades e competências que contribuam para o sucesso na rede.
Um dos fatos mais intrigantes acerca dos youtubers é sabermos discernir os que estão usando este recurso puramente como forma de marketing pessoal (autopromoção) dos que estão se manifestando livre e espontaneamente na rede. E o que pode deixar a história mais complicada é sabermos que muitos pais estão expondo seus filhos sem limites ou explorando um suposto talento para ganhar dinheiro conforme a quantidade de acessos - e o que é pior: a criança nem tem consciência de que está passando por isso (como muitas nunca tiveram na televisão também). Outros estão se valendo dessa onda de vídeos para propagar mentiras, ódio e distorcer fatos políticos e sociais - a dita ação de má fé. As consequências podem ser horríveis nesses casos. Mas talvez este seja o "preço maior" da democratização: conviver com interesses multifacetados, cabendo a nós um filtro de seleção.
Vale também apontarmos para uma nova tendência. O sucesso dos youtubers está se estendendo em outras esferas: eles estão enveredando pelo caminho literário. Alguns dos livros mais vendidos já são os escritos por youtubers. Podemos entender como "a novidade do momento" ou simplesmente como resposta a uma nova demanda: da mesma forma que milhares de leitores recorrem à autoajuda, a moda agora é dominar as ferramentas, saber e desenvolver habilidades e competências que contribuam para o sucesso na rede.
Um dos fatos mais intrigantes acerca dos youtubers é sabermos discernir os que estão usando este recurso puramente como forma de marketing pessoal (autopromoção) dos que estão se manifestando livre e espontaneamente na rede. E o que pode deixar a história mais complicada é sabermos que muitos pais estão expondo seus filhos sem limites ou explorando um suposto talento para ganhar dinheiro conforme a quantidade de acessos - e o que é pior: a criança nem tem consciência de que está passando por isso (como muitas nunca tiveram na televisão também). Outros estão se valendo dessa onda de vídeos para propagar mentiras, ódio e distorcer fatos políticos e sociais - a dita ação de má fé. As consequências podem ser horríveis nesses casos. Mas talvez este seja o "preço maior" da democratização: conviver com interesses multifacetados, cabendo a nós um filtro de seleção.
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