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O Beijo - Gustav Klimt. Fonte: Afronte |
Quando afirmamos que amamos alguém, o que estamos querendo dizer? É possível definir o amor, tentar explicá-lo, entender por que e como ele acontece? Talvez, mas as respostas não estão em dicionários ou nas falas de profissionais especializados em relacionamentos. Via de regra, cada indivíduo tende a definir o amor de uma maneira própria, uma vez que o mesmo é - e sempre foi - sentido, visto e pensado de formas distintas. Os que gostam de literaturam sabem: em detrimento do contexto histórico-social de cada época, o amor recebeu diversos atributos: amor platônico, amor cortês, amor romântico, amor bandido, até amor vampiro! Estas concepções do fenômeno amoroso indicam que os modos de se relacionar se transformaram ao longo da história, e cada época registrou sua forma de amar.
Ao que tudo indica, o amor é o sentimento mais forte que a nossa alma pode sentir por nos proporcionar sensações tanto deliciosas e maravilhosas quanto extremamente dolorosas - sim, o amor é dialético e paradoxal. O poeta Dante Alighieri fala do amor como uma força cósmica capaz de mover o Sol e as outras estrelas. Logo, amar e ser amado não soam como as coisas mais simples do mundo no plano racional. Entretanto, no plano sensitivo é dotado de extrema simplicidade.
A sociedade ocidental foi educada no preceito cristão "ama o próximo como a ti mesmo", porém vivemos em um mundo marcado fundamentalmente pela imposição da competição entre as pessoas (ser mais, ter mais, ganhar mais). Este estímulo para que nos tornemos cada vez mais competitivos leva a uma crise de confiança generalizada. Ao invés de amar, suspeitamos do próximo e podemos enxergar nele uma ameaça às nossas ambições, inclusive um adversário a ser eliminado. Como toda regra tem sua exceção, também devemos reconhecer a importância que este sentimento desempenha ao provocar o desejo em muitos de nós por um mundo harmônico e mais justo.
A ideia do amor como conhecemos hoje é uma invenção moderna. Na Antiguidade e na Idade Média os interesses econômicos e políticos sempre falaram mais alto, mesmo no campo afetivo - era o que realmente importava. O "gostar de alguém" não era requisito fundamental para se envolver com o outro. Aliás, sabemos que "n" relacionamentos deste século 21 ainda são pautados no interesse e na conveniência. Nesse sentido, nada parece ter se modificado tanto depois de milhares de séculos.
A necessidade instintiva de aproximação sempre existiu; o anseio por convívio é premissa básica da existência humana. No entanto, muitos - sobretudo os jovens - encontram-se diante de um dilema: querem alguém para desfrutar o que uma relação pode oferecer de melhor, mas sem passar por momentos que exigem sofrimento, renúncias e dificuldades, porque isso também faz parte da convivência do amor. Este entrave é fruto da grande corrente de individualismo que se formou há tempos e que vem se perpetuando na sociedade. Viver o amor de forma intensa é bom, mas sem solidez, introspecção e profundidade ele não é possível.
Já dissera Shakespeare: o curso do verdadeiro amor nunca é suave.
Já dissera Shakespeare: o curso do verdadeiro amor nunca é suave.
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