Os períodos eleitorais parecem todos
iguais, bem como os políticos. Pelo menos é a ideia que a maioria das pessoas
tem. Tudo bem. Mas tratar a política com tanta indiferença está trazendo
resolutividade? Nenhuma. Existem poucas releituras da política brasileira
elaboradas de forma séria; a crítica é sempre passional.
Na
semana passada um aluno afirmou que o nosso problema é a tal democracia, que o
que acreditamos ser democracia é algo falho e, sobretudo, ilusório por causa da
disputa de poder. O último domingo é um bom exemplo. O fato de termos o direito
de votar (isto é, escolher os nossos representantes) e de nos expressarmos não
quer dizer que vivemos num regime democrático, até porque o voto se caracteriza
mais como dever do que direito. Quando as pessoas são obrigadas a fazerem algo,
fazem de qualquer jeito, e no processo eleitoral não é diferente. Vota-se em
qualquer um. Se houvesse uma liberdade real de escolha, poderíamos assistir ao
amadurecimento da nossa democracia.
Por
outro lado, a democracia vem sofrendo certo desgaste porque tem se configurado
como uma luta contínua e incessante entre opositores e ofensas. Além dos erros
nunca serem admitidos (de todos os lados), ao invés de servir como
representação das múltiplas vozes da população, a democracia está aprofundando algumas
diferenças existentes na sociedade brasileira. Isso também ocorre porque muitos
a confundem com a liberdade de poder fazer tudo. O pensamento é mais ou menos o
seguinte: se é normal existirem divergências ou posicionamentos distintos, o
conflito e a tensão fazem parte do jogo, o cenário não precisa necessariamente
ser equilibrado. Porém, a
intolerância insiste em caminhar ao nosso lado, ainda não aprendemos a lição.
Depois de ter acompanhado os horários das
propagandas eleitorais e os debates, restou lamentar a forma como alguns
candidatos tratam a política, como se o campo político pudesse se converter em
campo de guerra, em que a liberdade de expressão é confundida com discurso
discriminatório, ou como se as palavras pudessem atingir o adversário de forma
letal. É realmente desgastante.
O
receio, partindo de um olhar histórico, é que o excesso de conflitos políticos
acabe de vez com a democracia e a deixe em estilhaços, como tem acontecido em
diversos lugares no mundo todo.
O que precisa
ser mudado urgente é a nossa cultura de participação e de reivindicação.
Vivemos duas décadas num regime de controle ditatorial e, passados quase trinta
anos de (suposta) democracia, nossas conduta e postura permanecem praticamente
as mesmas: a da resignação e do inconformismo muitas vezes sem fundamentos.
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