Sei que quando se trata de redes sociais o assunto é complexo e a abordagem não pode ser reducionista. Mas, evidentemente, qualquer texto acaba pendendo para algum lado (lê-se aqui ideologia). Começo, portanto, pela conclusão: o Facebook tem passado por testes diários de sobrevivência. E não está fácil.
Em primeiro lugar, a maioria dos meus contatos está marcada na opção de não receber atualizações no feed de notícias. Isso já é um indício do quão interessante andam as publicações.
Para chegar à conclusão, entrei no máximo de perfis possíveis. Como para se ter um perfil é necessário que cada usuário seja cadastrado com o seu e-mail, podemos deduzir que aquela conta e o que nela é publicado, além de ser de inteira responsabilidade do usuário, será usada como for conveniente, lembrando de estar sempre dentro do permitido legalmente. Alguns escolhem fazer do Face um verdadeiro muro de lamentações. Desabafo atrás de desabafo. Outros veem na rede social o clube das indiretas ou o do #ficaadica. Há os que preferem usar a página como divulgação profissional, bem compreensível nesses tempos globalizados e de compras via internet. Há ainda os que estão lá para focarem suas publicações em assuntos políticos e causas sociais (Marina Silva, por sinal, não é muito querida pelos meus amigos). Não estou generalizando e nem pretendo criar uma tipologia dos perfis dos usuários do Facebook, até porque isso é o que eu mais vejo, e não tudo o que vejo. E, mesmo assim, quase não sobra espaço para reflexões sérias. Por quê?
A resposta é simples: porque, na verdade, este não é o objetivo primordial do Face, mas justamente o seu oposto. O vício na rede é a confissão (in)direta do tédio e de uma sociedade que não se propõe a refletir seriamente o que ela está vivendo. A intenção é exatamente a desfocar e deslocar o indivíduo. E, antes que alguém pense que estou generalizando por demais, sei que há exceções também. Lembrando: é o que mais vejo. Inclusive, um amigo historiador tem compartilhado este pensamento em sala de aula para mostrar aos alunos o quanto as redes são capazes de distraí-los por completo e perderem quase toda a concentração e raciocínio no que estão fazendo.
Para que uma rede como o Facebook sobreviva, uma moda deve ser criada dia após dia. São "desafios" atrás de "desafios" completamente sem sentidos, ou que mereçam, no mínimo, um curso de reflexão antes de serem exercidos. Há um bom tempo, o Facebook vem sendo desafiado a sobreviver com esses desafios. Aliás, desafio é um nome muito injusto para futilidade, superficialidade ou mesmo infantilização, pelo menos na maior parte dos casos.
Recentemente, dois "desafios" têm provocado inquietações. O primeiro já nem tão em alta é o balde de gelo. Nos Estados Unidos, o desafio original é: quando você é desafiado por alguém, ou doa 100 dólares em prol de uma causa nobre ou doa 10 dólares e vira um balde de água com gelo na cabeça. Muitas instituições receberam altos valores através dessa brincadeira, em especial as destinadas a tratarem de pessoas que sofrem de esclerose lateral amiotrófica. Claro que ajudar é sempre bom, mas mesmo assim me pareceu haver algo errado em toda essa história. A sensação é a de que o divertido é pagar menos porque ver celebridades e "pessoas comuns" levando o balde de água com gelo não tem preço. Oras, já que é para ajudar, não seria melhor que os pacientes recebessem mais e que não houvessem baldes com água e gelo? Para fazer o bem ou ajudar o próximo precisamos desse tipo de incentivo? Só em uma sociedade que vive à base do espetáculo...
O segundo "desafio" é o da foto sem maquiagem. Quando soube disso, definitivamente me convenci de que preciso urgente de uma abdução. E notem que agora para qualquer desafio a desculpa é sempre a mesma: a tal da conscientização. Parece que consciência todos têm, mas capacidade de reflexão não. O que está por trás disso? Pseudo-discursos. Pois se é de maquiagem de que se fala, vamos então falar da maquiagem social. Qualquer um deveria saber que o Facebook tornou-se um ringue para se ver - e provar! - quem é mais feliz, quem só vive de vitórias e quem está sempre bem. Por trás disso, estão pessoas que carregam seus fardos diários, e isso sim é natural, e não foto sem maquiagem. Sofrer é natural, estar triste é natural e não ser o Super Homem ou a Mulher Maravilha também é absolutamente normal. Temos muito medo e vergonha de assumirmos quem de fato somos com todas as nossas angústias e imperfeições porque precisamos de aceitação social, como afirmei no post anterior sobre os selfies. Ah, Raquel, mas que bobagem, é só uma brincadeira de foto sem maquiagem...
Temos uma ferramenta boa à nossa disposição e poderíamos usar para conseguirmos avanços nas esferas básicas da sociedade: educação, cultura, política, trabalho e outras. E o momento é muito oportuno. Será que novamente deixaremos escapar? Provavelmente. As pessoas evitam tudo o que dá muito trabalho.
Aguardemos o próximo desafio - ou teste de sobreviência.
Observações:
1 - Felizmente, há grupos no Facebook com discussões sérias a respeito de acontecimentos locais, regionais ou em escalas maiores.
2 - Bem que afirmei que esta publicação teria caráter ideológico específico, pois este blog também não tem maquiagem!
0 comentários:
Postar um comentário