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  1. Desafio à brasileira

    domingo, 18 de maio de 2014

    Falta menos de um mês para a Copa do Mundo. Diante de tantos protestos contra o evento, temos que ser honestos: vai ter Copa sim! Embora as manifestações sejam válidas (e é um direito dos cidadãos), o momento certo de protestar e ir às ruas deveria ter sido há oito anos, quando o Brasil foi escolhido para sediar a competição, e não faltando um ano, como aconteceu em junho de 2013 (misturando-se com os protestos do Movimento Passe Livre contra o aumento da tarifa do transporte coletivo) e se estendeu até hoje. Embora não tenhamos certeza do que vai se suceder durante os 30 dias de evento, é certo que novamente as placas tectônicas da vida social do brasileiro vão entrar em choque.
    Esta não é a primeira vez que somos escolhidos como país sede da Copa, mas as circunstâncias histórias são outras e podemos afirmar, com muita convicção, que estamos diante de dois desafios sem possibilidade de desvio. Primeiramente, existe uma pressão muito grande para que o Brasil faça jus à fama internacional de país do futebol e conquiste o hexacampeonato. Em segundo lugar, e mais importante, está claro que não temos estrutura o suficiente para comportar este evento, e isso inclui todas as cidades selecionadas para os jogos.
    Em pleno ano de 2014, sediar a Copa - e em 2016 as Olimpíadas - representa a superação histórica e o rompimento definitivo da condição de ex-colônia, significa abandonar a ideia de país subdesenvolvido para revelar uma sociedade moderna tecnológica e economicamente, capaz de realizar mudanças efetivas na esfera cultural, política e social. Significa desconstruir a imagem de um povo que vive somente de futebol e carnaval. Enfim, trata-se de um desafio porque exige a recriação da identidade nacional.
    Um erro que nossos governantes deveriam evitar (mas parece que tem sido a "saída de emergência" às vésperas da Copa) é a aprovação de projetos que prometem soluções rápidas ou imediatas para os problemas estruturais que estão há décadas largados ao deus-dará e sem resultados notavelmente prósperos. Diante desta constatação, deveríamos estar inquietos não com a Copa em si, mas com o que virá depois dela. Continuaremos a depender de transportes públicos, os aeroportos continuarão lotados, a saúde pública continuará desestruturada, nossos jovens continuarão sendo alvos do turismo sexual no exterior, os índices de criminalidade não serão reduzidos, a educação não apresentará melhoras significativas mesmo que a seleção levante a taça de campeã. Nada há de moderno nisso.
    Queremos um Brasil preocupado com títulos e honrarias para se orgulhar ou um Brasil que poderia se orgulhar de um desenvolvimento justo e digno para todos?

    Esclarecimento: o brasileiro tem a mania de valorizar tudo o que vem de fora; parece que o Brasil é o único país que "não vai pra frente". É uma reclamação sem fim e nenhuma proposta de mudança. Não estou afirmando isso nesse pequeno texto, é apenas um olhar sobre o que significa ser país sede da Copa em nosso contexto atual. A propósito, muitos dos que protestaram ou estão protestando contra a Copa vão assistir aos jogos fielmente, podem apostar.


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