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  1. Balança desregulada

    sábado, 17 de maio de 2014

    Os dados são alarmantes. Metade da população brasileira com mais de 18 anos está acima do peso. Depois de assistir ao documentário Muito além do peso (direção de Estela Renner), penso ser urgente a necessidade de rever todos os setores ligados à alimentação, especialmente a infantil. Começo esta publicação apresentando alguns números retirados do filme. 33,5% das crianças brasileiras estão com sobrepeso ou obesas. Um pacote da batata Ruffles possui cerca de 77g de gordura. Se uma pessoa ingerir uma lata de refrigerante por dia durante um mês, ela estará consumindo, em média, mais de 1kg de açúcar. O curioso é que, mesmo sendo mostrado às crianças que foram entrevistadas no documentário, praticamente todas afirmam que continuarão a ingerir refrigerante frequentemente. Ou, como diz um garoto, continuará "abrindo a felicidade", referindo-se à Coca-Cola.
    Está estatisticamente comprovado: as crianças que ficam muito tempo em frente à televisão tendem a ganhar mais peso. E elas não ficam pouco tempo: assistem, em média, cinco horas de televisão diariamente. A mensagem que Estela Renner procura transmitir é a de que as crianças convivem com um excesso de telas que proporciona o sedentarismo. A tela da televisão, do videogame, do celular, do computador, do tablet.
    Como a criança não é capaz de pensar de forma autônoma, sua imaginação associa a ideia de brincar com a de utilizar esses aparelhos. O corpo dificilmente está em movimento. Para usufruir de todo o aparato tecnológico permitido pelos pais, basta apenas utilizar os dedos. Claro que este problema está ligado à falta de segurança que as ruas proporcionam. Os espaços amplos e públicos de lazer têm diminuído bastante. Desde cedo, as crianças estão aprendendo a lidar com confinamentos. No entanto, os adultos não devem se iludir ao pensarem que deixando os filhos em frente à televisão estarão seguros dos males. Ao contrário. Os empresários, que de bobos nada têm, entopem a televisão de publicidades que incentivam o consumo de bens supérfluos e alimentos nem um pouco saudáveis.
    É comum vermos alguns personagens de desenhos infantis ou do cinema como brindes ou em embalagens de produtos alimentícios como biscoitos, chocolates, bolinhos e salgadinhos. É uma tentação infindável e abusiva, tanto quanto a publicidade que a sustenta.
    Um dado importante para nos atentarmos também é o fato de esses produtos ruins para a saúde e geradores de doenças como diabetes, hipertensão e aumento de colesterol serem mais baratos do que os alimentos saudáveis. Se para nós soa absurdo uma criança não conseguir diferenciar uma manga de um melão ou um pepino de um abacate, podemos simplesmente ignorar os dados apresentados? 
    Certamente muitos pais de filhos obesos têm a sensação de terem fracassado em algum ponto. Embora sejam os principais responsáveis pelo desenvolvimento da criança, existem circunstâncias externas que contribuem para a obesidade. Novamente mais um dado: nos Estados Unidos, o governo federal gasta em torno de 51 milhões de dólares para a divulgação hábitos alimentares saudáveis e exercícios físicos, ao passo que 1,6 bilhões de dólares são gastos pela indústria alimentícia em marketing de produtos com alto teor calórico e pouco nutritivos. O senso de responsabilidade, pelo visto, passa cada vez mais longe das corporações e empresas publicitárias. 
    Além disso, quando se trata de educação, infelizmente a maioria das crianças estão inseridas na lógica da mercadoria e das contradições. As cantinas escolares estão cheias desses alimentos. Se um aluno resolve levar uma fruta para comer no intervalo, ele provavelmente se sentirá intimidado diante das guloseimas que estão no cardápio diário de seus colegas. Então se falta estímulo, o quadro se torna mais difícil de ser revertido.
    O que Estela Renner sugere, e com muita razão, é que aulas de educação alimentar façam parte do currículo escolar. Não se resolve um problema complexo com palestraras, do que pode e do que não pode, porque isso todos nós já sabemos. Ela mesma afirma: "Como se trata um alcoólatra? Basta dizer "não beba"? Não. Você oferece terapia, você dá remédio, dá carinho, dá conforto. Com uma criança - e mesmo com um adulto obeso - é a mesma coisa. Não pode falar "não coma"." 
    Muito além do peso é imperdível e pode ser visto no Youtube.




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