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  1. Livro: Cidades Rebeldes

    terça-feira, 7 de janeiro de 2014

    A partir deste ano, o blog terá um espaço voltado exclusivamente para indicações de livros. A ideia não é disponibilizar resenhas profundas - são, mais uma vez, indicações. Os livros, que podem ou não ser da área sociológica, serão divulgados com a finalidade de despertar o interesse por temas relevantes.
    A primeira indicação será de um livro que talvez tenha sido um dos mais inquietantes do ano de 2012, bem como as motivações que levaram à publicação da obra: Cidades Rebeldes: Passe Livre e as manifestações que tomaram as ruas do Brasil.

    Imagem: Outras Palavras

    No calor dos protestos e manifestações que invadiram as ruas, as manchetes de jornais, programas televisivos e, claro, as redes sociais, vários artigos foram divulgados; pensadores foram contratados exclusivamente para dar uma resposta "satisfatória" à população, que se indagava a todo momento - num misto de confusão, rebeldia, inconformismo, revolta e indiferença também - "o que está acontecendo?". Naturalmente, todos nós tentamos compreender o que essas duas semanas de rebelião urbana representaram para o país e os possíveis desdobramentos.
    Cidades Rebeldes, da Boitempo Editorial em parceria com a Carta Maior, é, sem sombra de dúvidas, a melhor produção sobre as jornadas de junho até o momento. Se quisermos uma reflexão mais profunda sobre os acontecimentos que atingiram proporções inimagináveis, esta é uma leitura obrigatória e, portanto, imprescindível.
    O livro é resultado de uma coletânea de ensaios cujos autores são de alto renome no pensamento crítico em escala (inter)nacional. Além disso, a obra reúne charges e imagens que não foram veiculadas pelos grandes meios de comunicação, ou melhor, pelo PIG (Partido da Imprensa Golpista).
    No âmbito internacional, temos os ensaios de David Harvey, Mike Davis e Slavoj Zizek. Entre os autores brasileiros, temos Carlos Vainer, Ermínia Maricato, Felipe Brito, João Peschanski, Jorge Luiz Souto Maior, Leonardo Sakamoto, Lincoln Secco, Mauro Luis Iasi, Pedro Rocha de Oliveira, Raquel Rolnik, Ruy Braga, Silvia Viana e Venício Lima, além das colaborações da Mídia NINJA e do Movimento Passe Livre de São Paulo.
    Cidades Rebeldes apresenta os elementos que não apenas tornam as cidades mais complexas, contraditórias ou caóticas, mas como sentimos tais efeitos e de que forma se relacionam com as lutas e reivindicações. Um ponto interessante é que, ao contrário do que vimos ano passado, os ensaios não procuram atacar ferozmente ou idealizar as manifestações; eles abordam justamente o que está por trás desses atos.
    Mencionarei alguns aspectos do livro que contribuem para uma análise que atinja as expectativas do leitor. Em primeiro lugar, está claro que as vozes que se fizeram ouvir nas ruas não formam um conjunto homogêneo; os interesses não eram os mesmos. Apesar da diversidade ideológica nítida, na pauta das manifestações estavam as mais diversas agendas mal (ou ainda não) resolvidas. Outras abordagens presentes:
    - O transporte coletivo vinculado a um sistema completamente entregue à lógica da mercadoria.
    - Repensar o sentido da cidade, uma vez que ela é o principal local onde se dá a reprodução da força de trabalho, representa a expressão das relações sociais e prioriza o transporte individual.
    - Reformas: urbana, política e fundiária.
    - O direito à cidade, que não pode ser concebido como um direito (ou poder?) individual. Acredito que esta seja a discussão mais marcante do livro. Vale a pena uma citação da Raquel Rolnik:
    "Não se compra o direito à cidade em concessionárias de automóveis ou no Feirão da Caixa: o aumento de renda, que possibilita o crescimento do consumo, não "resolve" nem o problema da falta de urbanidade nem a precariedade dos serviços públicos de educação e saúde, muito menos a inexistência total de sistemas integrados eficientes e acessíveis de transporte ou a enorme fragmentação representada pela dualidade da nossa condição urbana (favela versus asfalto, legal versus ilegal, permanente versus provisório)".
    - A repressão brutal que os movimentos sofreram, física e ideologicamente.
    - A legitimidade das manifestações e uma das palavras mais utilizadas: vandalismo.
    - Compreender melhor a bandeira do transporte público.
    - Refletir a respeito de um movimento que começou Apartidário e se tornou ANTIpartidário.
    - A crítica da expansão (ou não) dos direitos sociais e a discussão acerca da qualidade dos serviços públicos.
    - Problematização da crise de representação política e os discursos dos grandes meios de comunicação que investem na desqualificação dos políticos e da própria política, através do discurso insistente da corrupção como principal responsável por tudo que acontece ou deixa de acontecer no Brasil.

    Todas essas reflexões estão em apenas 110 páginas, incluindo o item "Sobre os autores". Mais um bom motivo para ter Cidades Rebeldes: a obra custa aproximadamente R$ 10,00.

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