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  1. Pokémon Go e a Hiper-realidade

    quinta-feira, 11 de agosto de 2016

    O desenho Pokémon fez parte da minha infância e de milhares de outras pessoas, isso há praticamente duas décadas. Quem diria que a marca atravessaria gerações, obteria faturamentos bilionários e que o Pikachu se tornaria um ícone pop!
    Fonte: Pokémon.
    Fazendo um breve retorno às origens, vinte anos atrás a internet era pouquíssimo acessada, funcionava apenas em computadores de mesa e através de cabos telefônicos. Era cara e lenta - a internet discada, como falávamos. Na minha casa, o nosso pacote prodígio era de dez horas mensais, para três pessoas. Ou seja, em tese eu só podia usar a internet três horas e meia durante todo o mês! Mas também não era como hoje, com milhões de sites e redes sociais; ela tinha suas particularidades. Os celulares serviam basicamente para fazer e receber ligações e alguns mandavam mensagens de texto. Por fim, os videogames eram conectados aos televisores e o máximo que se podia fazer era disputar com os amigos, familiares e vizinhos, em casa mesmo ou em locadoras, uma vez que não era conectados à rede.
    O jogo Pokémon Go, lançado pela Nintendo, reúne precisamente toda a evolução tecnológica da internet, dos celulares e dos jogos, numa época de domínio hegemônico das redes e de praticamente mais nenhum limite entre e o virtual e o offline. A internet deixa de ser um "lugar" no qual "entrávamos" ou "navegávamos" e se mistura com a vida nua e crua. Pokémon Go é isso, duas dimensões interconectadas: criaturas que não existem aparecem em lugares concretos, a gameficação da realidade, a sociedade como uma rede social em movimento.
    Se antes falávamos de real e virtual como conceitos antagônicos, hoje se fala em realidade virtual. Cumprimos a maior parte de nossos afazeres em plena conexão, utilizamos nosso tempo de ócio e lazer quase sempre conectados.
    O ciberespaço tem sua dinâmica e impactos próprios, afetando nossa percepção, os filtros afetivos e o modo como assimilamos (e às vezes distorcemos) os fenômenos que se apresentam em nosso cotidiano. As experiências hiper-reais provocadas pelo excesso de likes, gadgets, redes sociais, matches, notificações, selfies e compartilhamentos alteram quase que por completo a noção de tempo (como usamos e vivemos), de espaço e da própria realidade. Mais do que nunca o corpo e a mente estão constante e interminavelmente submetidos a um bombardeio de estímulos, informações e sensações advindos da vida digital, provocando um curto-circuito psíquico e nos direcionando para um caminho incerto, pois ainda não sabemos como lidar e controlar todo este turbilhão. Ao contrário do que muitos imaginam, não desenvolvemos o domínio pleno da realidade virtual porque seu ritmo é dissonante do nosso e não acompanhamos sua dança.
    Não é de hoje que o homem desenvolveu múltiplos recursos que nos tiram da realidade factual, isto é, que nos deslocam para o que não é real e sim artificial. Neste caso, podemos mencionar tanto as substâncias que alteram o estado de consciência quanto as artes que apresentam alguma estrutura narrativa, como o cinema e a literatura. Contudo, enquanto Pokémon Go é apenas um entretenimento de fuga da realidade, as artes apontam caminhos para reflexões muito profundas sobre a natureza e essência humanas.
    A vida digital e seu forte amparo tecnológico têm construído a massificação de um estilo de vida pautado na hiper-realidade, criando padrões universais de comportamento e nos convocando para "jogar" continuamente. Numa era em que o simulacro se fundiu à realidade, já não é possível distinguir com facilidade o que é real e o que é apenas uma simulação do real.
    O curta Hiper-Realidade está aí para provar. 



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