Recentemente, a Pesquisa Retratos da Leitura no Brasil,
uma iniciativa do Instituto Pró-Livro, divulgou alguns dados sobre os leitores
brasileiros. Eles somam 56% da população e leem em média 4,96 livros por ano.
Quantas pessoas você conhece que possuem uma paixão enorme pela leitura? Quando
falamos de paixão, precisamos levar em conta a subjetividade de cada um. Muitos
preferem utilizar o tempo vago empenhando-se em outras atividades que lhe dão
prazer e não podemos lutar contra este fato, porém também não se pode negar que
os índices da pesquisa são de causar entristecimento se considerarmos o poder
enriquecedor de visão de mundo, de conhecimento, de articulação escrita e oral
que os livros proporcionam a qualquer leitor disposto a mergulhar nesse
universo de múltiplas possibilidades.
Entretanto, a minha publicação possui um objetivo mais
específico: o de questionar o quanto estamos lendo. Pode ser mais do que esperamos se excluirmos os livros e quero deixar claro que absolutamente nada os
substitui, mas vale a pena refletirmos um pouco.
Tal ideia me ocorreu após ler um artigo no qual o autor
relata sua dificuldade e desespero por não conseguir mais ler livros, embora
sempre tenha sido um leitor assíduo. Ele argumenta que o uso excessivo da
internet tem provocado algumas mudanças, dentre elas o rápido cansaço ao pegar
um livro e iniciar sua leitura. O mesmo acontece com os livros digitais, prova
de que se há um problema, este é mais sério do que estava supondo. A grande
questão – eu diria o xeque-mate de toda a história – é a afirmação do autor de que,
na verdade, nunca leu tanto como agora. Foi a brecha para eu começar a escrever
este texto: o poder normativo da leitura em fragmentos, em doses homeopáticas, está impedindo muita gente de ler livros e grandes artigos, tira a
capacidade de concentração rapidamente e gerou um vício em boa parte da
população.
Sai o livro, entra a leitura fragmentada. Fonte: ShutterStock. |
Nós nos tornamos tão factuais e ansiosos que até aquela
música que nos dá prazer é afetada por um comportamento pontual. Li um artigo
cuja autora menciona um estudo que diz que 25% das músicas do Spotify recebem aquela “skipada”, isto é, são
puladas após 5 segundos e que metade dos usuários avança a música antes do seu
final. Agora eu pergunto: se não conseguimos ser pacientes nos momentos em que
estamos focados naquilo que gostamos de ouvir durante o tempo livre, o que
dizer do resto? Já não nos aprofundamos nem naquilo que era para ser fonte de
prazer.
Este é um problema de ordem social e generalizado. É como
se nosso cérebro se viciasse na carga pesada de informações e precisasse ser
constantemente alimentado por elas. Voltando ao começo, enquanto os livros são
dotados de especificidades (enredo fixo, personagens, estilo narrativo), a
internet parece mais um parque de diversões com a quantidade imensa de
estímulos sonoros e visuais. É bom lembrar que ela é o nosso reflexo, seja
bonito ou não de se ver. Talvez o momento seja de mudança e recondicionamento
de hábitos. Será que conseguimos?
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