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  1. Haveria outra interpretação?

    sábado, 21 de dezembro de 2013

    Não tolero preconceito e palavras abusivas na tentativa de rebaixar vítimas. Guarde bem o rosto deste homem que aparece nesta publicação. Felizmente, ele é o EX-secretário (isso mesmo, com ênfase no "ex") de Defesa Social de Pernambuco. Wilson Damázio foi demitido por gerar muita polêmica e revolta a partir de declarações extremamente preconceituosas e ofensivas, mais especificamente: homofóbicas e machistas. Citarei os dois casos. 
    O problema teve início quando Damázio, em entrevista ao Jornal do Commercio de Recife, foi questionado sobre supostos estupros que jovens negras e pobres sofreram e que teriam sido cometidos por policiais militares. De acordo com O Globo, "a corregedoria de sua secretaria estava apurando o caso de dois policiais que teriam obrigado uma mulher a fazer sexo com eles, com a arma apontada na cabeça da vítima". Damázio falou sobre desvio de conduta que existe em todos os lugares, mesmo na polícia, afirmando ser uma linha tênue. Ao resolver insistir na ideia de desvio de conduta presente em todo lugar, disse que "tem na casa da gente, tem um irmão que é homossexual, tem outro que é ladrão, entendeu?".
    Depois tentou consertar, muito embora não tenha conseguido: "Lógico que a homossexualidade não quer dizer bandidagem, mas foge ao padrão do comportamento da família brasileira tradicional".
    Para piorar, além de considerar homossexualidade desvio de conduta, a confusão não parou aí. Sobre este assunto dos policiais envolvidos nas práticas de estupro, o ex-secretário culpou as mulheres por tais atos, declarando que as mesmas têm fetiche por homens fardados. Nas palavras de Damázio:
    "Policial exerce um fascínio no sexo... no dito sexo frágil. Eu não sei por que mulher gosta tanto de farda. Todo policial militar mais antigo tem duas famílias, tem uma amante, duas. É um negócio. Quando chega lá, que coloca aquele colete, as meninas ficam tudo "sassaricadas". E às vezes com namorado, às vezes casadas. Dentro da viatura, então, o fetiche delas vai lá em cima".
    Precisa dizer mais alguma coisa? Sim!
    Primeiramente, ainda não entendo por qual razão o governo pernambucano não exonerou com prontidão Wilson Damázio. É imperdoável e teria representado as desculpas do governo de Eduardo Campos com a sociedade pernambucana (e com a brasileira também).
    A função do secretário de defesa social é defender e zelar a integridade física e moral da população, inclusive das mulheres e sobretudo num Estado com forte histórico de violência doméstica. Ao fazer tais declarações, ele corrobora com uma ideia que está em curso no Brasil, que é a de culpabilizar a vítima pelo que lhe ocorreu. Ou seja, se nós, mulheres, usarmos roupas curtas, decotadas ou sensuais estamos pedindo para sermos estupradas, a culpa é nossa e não do agressor. Precisamos, com certa urgência, romper com este pensamento que tem se fortalecido e pode ser uma nova faceta cultural ligada à violência no Brasil.
    Vale dizer que, ao entregar o cargo na última quinta-feira, dia 19, Damázio teve a ousadia (ou cara de pau?) de afirmar que foi mal interpretado, que aquelas palavras constrangedoras não condizem e não refletem seu pensamento, nem da SDS, nem do governo Eduardo Campos. Tudo bem, podem não ser condizentes com os valores da SDS e do governo, mas dizer que interpretamos mal é inaceitável. Ou as frases estão ambíguas com várias possibilidades de interpretação?
    É importante não esquecermos de que, com as declarações de Damázio (sobre policial ter duas famílias e amantes) e as denúncias de abusos registradas, a imagem da corporação militar ficou muito comprometida. É necessário verificar todos os casos e levá-los até o fim, e a polícia também deve um pedido de desculpas a essas mulheres, inclusive para limpar sua imagem. Até porque já sabemos que a ouvidoria militar pernambucana não prosseguiu com as investigações.
    Em tempo: agora o novo secretário de Defesa Social é Alessandro Carvalho Mattos, de acordo com o Diário de Pernambuco.

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