Há uns três anos recebi um e-mail curioso. Não sei se o mesmo retratava uma situação verídica, mas apresentava alguns elementos interessantes para refletirmos acerca do poder da publicidade e o quanto ela influencia o consumo infantil.
A mensagem dizia respeito ao comercial do laptop da Xuxa e trazia o depoimento de um pai publicado em um jornal, cujo lamento estava no fato de a filha querer desesperadamente o produto da "estrela" global porque sua felicidade parecia depender do tal laptop.
Pois bem. Decidi procurar o comercial e encontrei o seguinte:
Cheio de efeitos visuais e super alegre, qualquer criança que assiste a este comercial consegue ser convencida de que descer no arco-íris com o laptop da Xuxa é muito mais legal, divertido, interativo e até educativo do que o papel e o lápis de colorir, uma combinação que ajuda a desenvolver a criatividade, o gosto pela arte e a expressão da subjetividade. Podemos notar que as meninas parecem até mais felizes quando estão com o aparelho portátil; a expressão facial é determinante para garantir a excelência do produto.
Este comercial nos ensina que existe uma pedagogia do consumo ligada à publicidade infantil. Desde cedo as crianças começam a ter desejos voltados para o consumo porque a mídia perversa, os empresários e publicitários, todos perversos também, aproveitam-se da imaturidade e falta de discernimento de uma criança e inserem nela um mundo de fantasias que muitas vezes nem existe, mas que traz a promessa da felicidade. Assim como o trabalho deturpa os valores e a subjetividade dos homens, a marca do desejo é inscrita precocemente na infância.
Quando vi este anúncio, lembrei de uma mulher que adora falar que sua filha se parece com a Barbie, primeiro porque ela segue os padrões da boneca mais desejada do mundo. Segundo porque a garota está sendo educada desde cedo a ter esses objetos de Barbies e Xuxas que estão pelo mundo afora e que formarão sua identidade. Isso é extremamente perigoso.
Apenas os pais podem educar seus filhos para a vida. Com o espetáculo midiático não se pode contar, uma vez que o mesmo "educa" de forma poderosa para o consumo que muitas vezes sequer é necessário, não fosse a insistência de que ter o produto pode fazer o indivíduo feliz, além de ser vital. Como não existe um cuidado com a publicidade infantil e as propagandas não são reguladas, cria-se a ilusão de que todos são livres e capazes de terem aquilo que desejarem. Basta analisar o desejo e o desespero de crianças cujas famílias não possuem a renda necessária para adquirir tais produtos e estarem igualmente expostas à invasiva, massiva, cruel e desumana publicidade infantil.
Termino com uma pergunta: o que se pode esperar de uma sociedade na qual interesses comerciais se sobrepõem aos cuidados básicos com a infância?
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