Embora se trate de uma ficção, o filme Click, produzido por Frank Coraci em 2006, engloba diversas categorias de análise e elementos científicos das pesquisas sociológicas recentes: a compressão do tempo, o trabalho e as atividades excessivas do cotidiano, o consumo, a instantaneidade, as relações fragilizadas. Esta comédia evidencia a efemeridade e o convívio destruído pela inovação tecnológica, aliado à falta de tempo e aos sentimentos de desequilíbrio e impotência.
A trama relata a história do arquiteto Michael Newman, sua esposa Donna e seus dois filhos. Ao decidir que pretende ser o sócio da companhia onde trabalha, Michael começa a trabalhar demasiadamente. Tudo em nome da realização profissional. Esta escolha, no entanto, afasta-o de sua família; ele não consegue mais se dedicar ao ambiente familiar, ter momentos de descontração, lazer e mal se atenta à saúde. Resultado: dominado pelo estresse e pressionado por todos os lados, Newman resolve ir até a uma loja de departamento a fim de comprar uma espécie de controle remoto universal, adquirindo-o na sessão intitulada "Além".
Ao começar a utilizar o controle, Michael logo descobre que o objeto possui o poder incrível de "controlar" o tempo e o espaço: pode estar em qualquer lugar ou tempo quando desejar, seja no passado, presente ou futuro.
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Com o Menu da Vida, Michael se sente o Todo-Poderoso |
Esta descoberta produz a sensação de Todo-Poderoso: com o Menu da Vida em suas mãos, o protagonista pode tomar todas as decisões de sua vida. A ênfase de Michael reside, sobretudo, no futuro em função de seu trabalho, do anseio pela promoção e aumento salarial. Aparentemente, ele parece ter encontrado a solução de seus problemas e, através de um clique, passa a acelerar os momentos em que se encontra com a esposa e os filhos, sem saber que o controle possui memória automática e o mesmo começa a apressar sempre as ocasiões em que o arquiteto não está trabalhando.
Nesse sentido, associo o filme ao princípio operativo weberiano da civilização moderna: a busca pela eliminação do tempo improdutivo, ocioso e, portanto, desperdiçado. Esta forma de conceber e controlar o tempo causa impacto na condição da existência humana. Com um desenvolvimento tecnológico cada vez maior em todos os setores, especialmente nos transportes e na comunicação, nosso tempo se tornou muito preciso e criou-se a ideia de ritmo frenético. Somos conduzidos a construir uma vida frenética também, pois, como diria Maria Rita Kehl, "nada causa tanto escândalo, em nosso tempo, quanto o tempo vazio. É preciso aproveitar o tempo, fazer render a vida, sem preguiça e sem descanso". Pensemos um pouco: somos capazes de conceber alguma forma de permanecer no mundo a não ser a da velocidade ou nos encontramos, verdadeiramente, mergulhados na urgência dos acontecimentos, compromissos e afazeres?
Nesse sentido, associo o filme ao princípio operativo weberiano da civilização moderna: a busca pela eliminação do tempo improdutivo, ocioso e, portanto, desperdiçado. Esta forma de conceber e controlar o tempo causa impacto na condição da existência humana. Com um desenvolvimento tecnológico cada vez maior em todos os setores, especialmente nos transportes e na comunicação, nosso tempo se tornou muito preciso e criou-se a ideia de ritmo frenético. Somos conduzidos a construir uma vida frenética também, pois, como diria Maria Rita Kehl, "nada causa tanto escândalo, em nosso tempo, quanto o tempo vazio. É preciso aproveitar o tempo, fazer render a vida, sem preguiça e sem descanso". Pensemos um pouco: somos capazes de conceber alguma forma de permanecer no mundo a não ser a da velocidade ou nos encontramos, verdadeiramente, mergulhados na urgência dos acontecimentos, compromissos e afazeres?
Após alguns anos, Michael está prestes a se tornar o presidente da empresa e percebe que está sozinho numa casa com aparelhos tecnológicos de última geração. Ele encontra-se abandonado, vazio e solitário após a separação com Donna e vive constantemente no piloto automático, com o corpo presente e a mente ausente em todas as situações.
Em estado de automatismo, pulando várias cenas e etapas da vida, sua memória começa a ser afetada a ponto de não se lembrar de nada. Michael sequer soube da morte do pai e não pôde voltar ao velório porque, naquele momento, estava trabalhando - e nem se lembrava disso. A compressão do tempo que produziu a instantaneidade diante de tantos afazeres compromete, de fato, a memória. Basta projetarmos esta tese para o nosso cotidiano.
Ao se dar conta que suas escolhas o levaram às mais sérias consequências, sua maneira de contemplar a vida muda dramaticamente: Michael reconhece que a família está acima de tudo e morre.
A grande revelação do filme está no final. Na verdade, toda a história não passa de um sonho que Michael teve ao se deitar em uma cama da loja que ele estava no início. Percebendo que ainda pode modificar sua vida, sai do estabelecimento disposto a trabalhar menos, dedicar-se mais à família e aproveitar cada minuto ao lado das pessoas que ama. É lógico que aí encontramos um paradoxo. Projetando mais uma vez esta ideia para nossa realidade, temos a consciência de que, para a maioria dos trabalhadores, não é possível trabalhar menos tendo em vista suas necessidades, bem como as relações de exploração a que estão submetidos.
Este filme retrata situações do cotidiano e questões que ajudam a refletir sobre o modo como os indivíduos se relacionam com o outro e com o tempo: aborda a valorização do individualismo sobre o convívio coletivo. Também propõe a discussão da essência da vida, com a pretensão de que seja plena, satisfatória, feliz e segura. Este ideal parece estar no acúmulo material proporcional ao excesso de trabalho. O roteiro questiona o que realmente pode trazer alegria e realização às pessoas. Há quem pense que uma viagem para o exterior, a casa na praia, uma fazenda, o celular do momento ou o carro do ano são as soluções para estes anseios. A produção de Coraci consegue fazer uma bela associação de que a felicidade e a satisfação não estão naquilo que se consome e que se pode ter; a mensagem transmitida em Click sugere a crise de valores e referenciais, a fragmentação da existência. A questão central, resumidamente, é o sentido da vida e o que fazemos dela a partir de nossas escolhas, isto é, daquelas que estão ao nosso alcance, longe dos padrões hollywoodianos.
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